Mais um caso de racismo relacionado ao futebol. Esse caso porém não é um "fato isolado", ou seja, uma demonstração isolada de preconceito. A atitude racista está ligada a outras atitudes também condenáveis no nosso futebol.
Ontem a noite, pela Taça Libertadores da América jogaram Cruzeiro e Real Garcilaso, do Peru. A partida foi vencida pelo time peruano, em uma operação que contou com com a participação de todos, além do bom futebol apresentado pelo time peruano.
O time peruano tem sede na cidade de Cusco, no Peru. Porém não tem condições de jogar na cidade, então preferiu jogar em Huancayo. O time peruano começou a dar as suas "boas vindas" ao Cruzeiro já na segunda-feira. Quando o time mineiro foi fazer o reconhecimento do local da partida, as luzes simplesmente se apagaram e os responsáveis alegaram falta de combustível nos geradores.
O time conta também com a "ajuda" da altitude de 3.200 metros e que sempre assustou os times brasileiros. O ambiente de "guerra" também é comum quando falamos de Libertadores da América ou de torneios realizados nas Américas.
No estádio, o tratamento foi o pior possível. O time da casa deixou os visitantes sem água, atitude típica dos times sulamericanos, inclusive os brasileiros. Porém o ápice da guerra tomou proporções que o time peruano não esperava. Quando o time do Cruzeiro colocou em campo o atleta Tinga, a torcida do time peruano passou a dirigir a ele ofensas raciais, comuns em países europeus.
O árbitro nada fez a respeito, os próprios jogadores do Cruzeiro não cobraram nenhuma atitude e o jogo seguiu até o final. Mas o gesto caiu como uma bomba na imprensa internacional. O caso repercutiu muito mal e pode render ao time peruano uma punição mais dura.
O fato porém não pode ser tratado como "isolado", partindo somente de uma manifestação da torcida, descolada do time que inclusive nem é da cidade. O que aconteceu ontem foi uma soma de fatores de uma "guerra" que o time peruano quis fazer para sair vitorioso do confronto. Deve ser julgado então, o time que deu causa a tudo o que aconteceu desde segunda-feira até depois do jogo. Que não se trate do assunto como um fato isolado da torcida em relação ao time. Tudo foi uma ação conjunta.
Após o jogo, o atleta visivelmente abalado, fez uma declaração bem apropriada com relação ao fato: "Fico muito chateado. Joguei quatro anos na Alemanha e nunca passei por isso. Agora acontece em um país parecido com o nosso, cheio de mistura. Trocaria um título pela igualdade entre raças e classes e respeito", declarou a Radio Globo.
Agora teremos que prestar atenção às atitudes, pois elas falam mais do que palavras. Jogar simplesmente palavras de repúdio na imprensa e na Internet de nada valem. Cruzeiro, CBF, Conmebol e FIFA devem tomar atitudes a esse respeito. Todas elas tem que ser firmes na luta contra o preconceito, a discriminação e a intolerância. Atos como esse tem que ser reprimidos com firmeza para que não tornem a acontecer.
Todos sabemos que essas questões extrapolam o mundo do futebol, elas estão presentes na nossa sociedade. Mas as atitudes que possamos tomar com relação a cada ato que ocorre é o que nos diferencia como cidadão e como ser humano.
Marcelo Alves Bellotti
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