Mais um ano de Copa São Paulo de Futebol Junior... No total, chegamos a 45ª edição. E contando um pouco da história dessa Copa. Ela surgiu em 1969 como um torneio sub 20, e era organizada pela Secretaria Municipal de Esportes. A Taça São Paulo, como era chamada, comemorava o aniversário da cidade e tinha sua partida final jogada em 25 de Janeiro.
A partir de 1987, o então prefeito Jânio Quadros decidiu que o município não arcaria mais com as despesas da Copa, e entregou a organização a Federação Paulista de Futebol. O que vimos a partir de então foi um outro torneio.
A FPF levou as sedes ao interior de São Paulo, estendendo mais convites as federações de todos os estados. Hoje a Copa São Paulo chega a sua 45ª edição com 104 times divididos em 26 grupos.
As cidades sede fazem as suas apresentações, sempre destacando a importância do futebol de base e mobilizando a cidade para participação.
É claro, aqui ninguém quer tapar o sol com a peneira... o sistema de classificação para a Copa São Paulo não é técnico, e sim político! Equipes são indicadas por suas federações que os fazem da maneira que bem entendem. A própria escolha das sedes não obedecem qualquer critério, apenas o político! O evento é muito mal vendido pela FPF, que distribui para redes pagas e para a Rede Vida em sinal aberto, somente se certificando que a final seja transmitida pela principal emissora do país, desde que envolva pelo menos um time que faça crescer o interesse das TVs.
Então, para a FPF é mais um evento televisivo, tanto que ela sem qualquer preocupação programa o início dos seus campeonatos sem que o seu campeonato de base acabe. Obviamente o interesse dos torcedores cai demais.
Mas as cidades escolhidas fazem a sua parte, como mostra o exemplo da cidade de Penápolis. Essa festa do interior faz com que o futebol ganhe novos adeptos. Ao tentar transformar o futebol em produto televisivo e elitizado, as federações podem ficar mais ricas, mas o futebol vai perdendo o seu interesse como esporte de massa.
Recentemente a Pluri Consultoria juntamente com a Stochos Sports realizou uma pesquisa para determinar o tamanho das torcidas no Brasil. O resultado não foi diferente de outros institutos, a não ser a divulgação de que hoje no Brasil, o maior contingente de pessoas não torcem para nenhum time de futebol. Para ver o resultado da pesquisa clique aqui.
Para que se tenha uma ideia do que pode ser o tamanho do estrago feito pela elitização do futebol, o que transformaria por exemplo o Flamengo como o time de maior torcida em Manaus, sendo que o último jogo que eu achei registrado do Flamengo em Manaus foi em 1996, um amistoso contra o Corinthians de apresentação do atacante Bebeto.
Se o público em Manaus não tiver um campeonato de bom nível, que faça com que seu torcedor vá ao estádio, ou que estimule suas crianças a praticarem o esporte, com certeza um outro esporte substituirá o futebol naquela praça.
Para quem acha isso difícil de acontecer, basta citar o exemplo da cidade de Leme. A cidade tem um time de futebol tradicional, a Lemense, que disputava o campeonato Paulista. Porém a falta total de um incentivo, de investimentos sério para levar o nome da cidade fizeram com que o clube pedisse licença na FPF. Aliado a esse fato, a prefeitura construiu o primeiro campo oficial de Futebol Americano no país.
Hoje, o público em Leme assiste normalmente seus ídolos do futebol pela TV e se o futebol americano se difundir como esporte no Brasil, logo as crianças da região estarão em Leme para treinar o esporte americano. Hoje essas crianças já acompanham a NFL. Mas o que trás a identificação com o esporte é que a cidade que ele mora vive esse esporte... ele pode torcer para um time da cidade dele... se sente representado.
Obviamente isso requer tempo e investimento. O futebol hoje é um produto essencialmente de mídia e fundamentalmente feito para um público de classe média. Verificamos isso quando vamos comprar qualquer artigo esportivo (Chuteiras, camisas de clubes, bolas, etc).
Acho que o caminho para o futebol seguir como manifestação popular está nas federações... está no apoio ao futebol em todas as cidades, em levar o público ao estádio para ver o time da sua cidade, que joga sempre em dia e horário diferente do que o time grande que passa na TV... é fazer com que o time da cidade tenha a chance de ganhar um torneio, para que os pequenos torcedores se identifiquem com o futebol, tenham gosto de ver o time de sua cidade.
A pesquisa da Pluri ainda mostra que Flamengo, Corinthians, São Paulo, Vasco e Palmeiras representam 49,5% dos torcedores no país. Fazer futebol pra esses clubes é fácil, mas privilegiá-los na mídia faz com que os times restantes percam a capacidade de captar investimentos. Sem dinheiro, esses clubes simplesmente fecham e seguirão fechando. O futebol, enquanto esporte de massa, vai fechando junto.
As federações podem mudar isso... hoje a FPF distribui R$ 15 milhões para 4 clubes disputar o torneio regional e R$ 2,4 Milhões para 16 clubes no primeiro nível (A1). No segundo nível (A2) ela distribui R$135 mil e 70 bolas. A distribuição desigual não permite aos clubes disputar o campeonato com os grandes. É óbvio que tem que haver distinção entre as divisões, mas elas não deveriam ser tão grandes. Cabe a FPF cuidar do produto futebol e dos interesses dos seus associados, e não dos interesses da TV, ou de pequenos grupos, que sequer dão valor ao regional, que fazem comissões e se unem para não participar mais do torneio regional e assim elitizar ainda mais o futebol no Brasil.
Nesse sentido, a Copa São Paulo ganha uma importância para as cidades sede, é a oportunidade que elas tem para difundir a prática do futebol nesse centros menores e cuidar do esporte como inclusão social, formando atletas paras os grandes centros, seja no Brasil ou no exterior e acima de tudo formando cidadãos, que terão orgulho de acompanhar o time da sua cidade.
Marcelo Alves Bellotti
Nenhum comentário:
Postar um comentário