sábado, 19 de janeiro de 2013

Campeonato Paulista 2013 acentua diferenças entre clubes


Hoje se inicia o Campeonato Paulista de 2013 da série A1 (primeiro nível). Mais uma vez a grande discussão gira em torno da duração do campeonato, com 19 datas na sua primeira fase e com oito times que se classificam para a segunda fase.

Ano passado os quatro clubes chamados grandes do futebol em São Paulo colecionaram títulos em nível nacional e internacional e naturalmente se distanciaram cada vez mais seus objetivos da disputa do Campeonato.

Para tornar o seu campeonato atrativo então, a FPF juntamente com uma montadora de automóveis, "engordou" a cota dos times grandes, em detrimento dos demais clubes.

Então os quatro clubes privilegiados receberão nesse campeonato o total de R$10,815 milhões para dizer que o paulistinha não é a prioridade no seu planejamento, quando por acaso no final do campeonato tiver que amargar uma eliminação para um dos 16 times de menor sorte no Estado.

Esses clubes receberão R$2,115 milhões. A proporção chega a ser desleal, pois os três clubes da capital mais o time da Baixada Santista recebem 84% do bolo, contra 16% dos demais.

Mas a desigualdade não para por aí. Para o campeão Paulista, a FPF distribui R$2,5 milhões e o vice-campeão fica com R$600 mil, enquanto que o campeão do Interior recebe R$200 mil e o vice-campeão recebe R$50 mil.

Sabemos que hoje os eventos esportivos são feitos para a televisão, e o futebol segue esse exemplo, remunerando mais a quem dá mais audiência, mas a relação de forças chega a ser desumana.

Falam da falência do futebol do interior e culpam os dirigentes dos clubes e suas péssimas administrações... discurso pronto sem apreciação do real problema. É certo que em geral os clubes são pessimamente administrados, sem planejamento e sem perspectivas profissionais, servem em geral para palanques eleitorais e como instrumento político para ascensão social. Mas essa discriminação a longo prazo vai acabar com o futebol do interior do Estado.

Passou da hora da FPF pensar no desenvolvimento de seus filiados. De trabalhar de forma a fazer um campeonato atrativo e de baixo custo para seus participantes e diminuir as diferenças entre os clubes, ao invés de acentuá-las. Ao fazer isso, atende o interesse dos grandes grupos, que querem tornar o futebol brasileiro em um evento voltado para a TV. Então o torcedor de uma cidade do interior como São Carlos por exemplo, ficaria sem opção de torcida para times locais, pois pela migalha que recebem, teriam um time semi-profissional, e tenderiam a torcer para os times da capital.

Essa é a modernidade que combatemos. Com inteligência, a FPF poderia transformar o seu campeonato realmente em entretenimento, aproximando o cidadão do interior ao clube da sua cidade, acentuando inclusive o conceito de cidadania.

É preciso haver um grande debate que leve o futebol em São Paulo a um caminho de desenvolvimento. Nos últimos anos temos notado o aumento de clubes cujo único interesse é a formação profissional de atletas (casos de Audax, Porto Feliz, etc) e clubes tradicionalíssimos praticamente quebrados, como o São Bento, por exemplo. Enquanto isso, a FPF distribui carros aos clubes em seu campeonato do primeiro nível. Não se trata de assistencialismo  mas sim de tratar o futebol como um produto rentável não somente para quatro clubes e uma emissora de TV. 

Da maneira que está distribuída a grana do Campeonato, os quatro clubes da capital tem a OBRIGAÇÃO de fazer a semi-final. Não se trata de melhor estrutura, ou de melhor time... apenas chegamos ao grande problema do Brasil... a desigualdade entre ricos e pobres... clubes ricos cada vez mais ricos e clubes pobres cada vez mais na miséria...

Marcelo Alves Bellotti

sábado, 12 de janeiro de 2013

Basta de Intolerância! (ou não?) O que queremos?

O futebol deve ser entendido como um entretenimento popular, onde a sociedade local se reúne em grupos em estádios para assistir partidas de futebol. Os grupos formados nos estádios, por inúmeras vezes tomam atitudes se protegendo na condição da ação anônima que em geral não seriam tomadas individualmente.
Os exemplos são vários... O povo catalão se reunia para os jogos de seu time em plena ditadura para gritar "Barcelona!". No Chile, também em pleno golpe militar do ditador de plantão, General Pinochet, um jogo de futebol chamou a atenção. Um jogador curiosamente tinha o mesmo nome do ditador. O jogador não estava em um bom dia, então o estádio inteiro gritou: "Fora Pinochet!"

Porém o que aconteceu no terceiro dia desse ano de 2013 no futebol foi mais uma demonstração de intolerância coletiva. Protegida pelo anonimato, torcedores partiram para a ignorância coletiva comum em países Europeus de demonstração de racismo.

O jogo era apenas um amistoso entre o Milan e o Pro Patria, um clube de futebol da cidade de Busto Arsizio, cidade na região da Lombardia com população de cerca de 80 mil pessoas.

O amistoso era pra servir de preparação para a continuidade do Italiano e para preparação do Milan. Porém aos 26 minutos do primeiro tempo, após ouvir várias canções de cunho racistas e a típica "imitação de macacos" dirigidas a ele, o jogador ganês da squadra rossonera Kevin-Prince Boateng abandonou a partida, visivelmente abatido.

Até por se tratar de um amistoso, a reação que se seguiu foi inusitada, porém corajosa. Todo o time Milanês acompanhou o seu jogador e também deixou o campo. Alguns jogadores do time rival tentaram fazer com que o jogador mudasse de ideia  mas aos poucos, também deixaram o campo de jogo.

A atitude de ambos os times ainda provocou aplausos de boa parte dos torcedores presentes ao estádio. Cinco torcedores do Pro Patria foram detidos e o clube foi punido com um jogo realizado com portões fechados.

O presidente do Pro Patria lamentou a reação de seus torcedores. "As pessoas que participaram dos cânticos racistas foram isoladas. Estas pessoas não eram nossas conhecidas do estádio e usaram este evento para arruinar uma celebração do futebol. O clube não pode fazer nada quando encara estes incidentes. A decisão do Milan (de cancelar o jogo) foi compreensível"

O Milan tratou o episódio como um fato isolado, mas marcou sua decisão em não tolerar situações como essa. Em nota oficial publicada em seu site afirmou "Busto Arsizio é uma cidade civilizada, ninguém pode negar. O Milan vai retornar de bom grado e com a cabeça em pé até lá, mas os cantos racistas daquelas pessoas pequenas hoje não poderia ficar impune. Em um certo ponto, o Milan disse “chega”. Aqueles que compartilham a cor do coração de Boateng, Muntary e Niang não podiam aguentar mais e decidiram que era hora de ensinar uma lição a estes tolos"


Pena que esse fato só tomou essa proporção por ser apenas um amistoso, sem maiores consequências  A UEFA e a Federação italiana deveriam ser mais efetivos no combate a intolerância. Ainda mais se tratando de Europa, onde essa prática é comum e já levou o mundo a uma grande guerra!

Situação vergonhosa que só mostra que mesmo em 2013, nada mudou!

Marcelo Alves Bellotti